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ATANAGILDO PINTO MARTINS

​(texto extraído do TCC "A influencia do tropeirismo na formação histórica de Santa Bárbara do Sul: século XIX"

 

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Crédito do texto : Linara Cristina dos Santos

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SANTOS, Linara Cristina. A INFLUÊNCIA DO TROPEIRISMO NA FORMAÇÃO HISTÓRICA DE SANTA BÁRBARA DO SUL: SÉCULO XIX. Trabalho de Conclusão de Curso – UNIJUÍ,  Ijuí/RS 2010.

Disponível em:

https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/608/C%C3%B3pia%20de%20LINARA%20TCC%20UNIJUI.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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2.2.1 Atanagildo Pinto Martins

 

Atanagildo Pinto Martins nasceu em 1772, na Vila de Castro nos Campos Gerais de Curitiba, atual estado do Paraná. Era filho do Capitão- Mor Rodrigo Félix Martins, natural de Portugal e Anna Maria de Jesus, nascida na Freguesia de São José dos Pinhais. “Atanagildo seguiu a carreira militar e foi sertanista, dedicando-se também a criação de animais.”40 Casou-se com Anna Joaquina do Amaral, filha de Antônio Ribeiro de Oliveira Neves, natural de Minas Gerais e de Ana Maria do Amaral, natural de São Paulo. Deste matrimônio tiveram os seguintes filhos: Marinha Esbela do Amaral, Ana Maria do Amaral, Felicidade Maria do Amaral e Carlota Joaquina do Amaral. Consta, ainda, nos testamentos tanto de Atanagildo como de Anna Joaquina a menção aos “filhos já falecidos” Emígdio com três meses e Antônio com vinte anos.41

 

Antes de se casar com Atanagildo, Anna Joaquina do Amaral fora casada com João Bonifácio Antunes, natural de Taubaté, com quem teve os seguintes filhos: Maria Eulália do Amaral, Joaquim Fortunato do Amaral e José Egipto do Amaral. A enteada de Atanagildo Maria Eulália do Amaral casou-se com seu irmão Francisco de Paula Pinto e tiveram um filho ao qual deram o nome de “Atanagildo Pinto Martins” que foi Brigadeiro em Palmeira das Missões.42

 

Atanagildo fixou residência no atual município de Santa Bárbara do Sul e sua fazenda era fronteiriça ao do irmão Rodrigo Félix Martins, estabelecido nos campos de Pinheiro Marcado, atual município de Carazinho. Seus enteados e filhas casaram com seus sobrinhos ou parentes de seus irmãos formando uma grande família. Como podemos observar na tabela abaixo:

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Atanagildo Pinto Martins comandou a Expedição de 1816, que acarretou a oficialização da Estrada das Missões. O desaparecimento de parte da Escolta43 que o acompanhava nesta Expedição desagradou a “Junta” em São Paulo, que o afastou do Regimento de Milícias de
Curitiba. Logo após, Atanagildo foi nomeado Capitão – Comandante do Corpo de Guerrilhas, para servir ao Rio Grande do Sul, na luta contra Artigas. Em 1825, foi eleito Juiz Ordinário na Vila de Castro, onde já aparece nas atas como Sargento - Mor.44


O Major Atanagildo Pinto Martins e sua enorme parentela teriam fixado residência no Planalto Médio no final da década de 1820. Em 1834, com instalação da Câmara de Vereadores do município de Cruz Alta, Atanagildo foi eleito vereador com 123 votos, sendo o
3º mais votado, atrás apenas do Ten. Cel. Vidal José Pilar e do Capitão Joaquim Thomaz da Silva Prado.45 Fez parte do primeiro Corpo de Jurados de Cruz Alta constituído no mesmo ano.46 “Atanagildo serviu a Câmara de Vereadores de Cruz Alta desde a sua fundação. Suas
assinaturas (Mîz.:) iniciam-se em 1834 e terminam em 1844, em períodos alternados.”47 

 

O longo período de legislatura dos vereadores da Câmara de Cruz Alta, pode ser comprovado através de um ofício enviado ao Presidente da Província em 18 de junho de 1844, cujo Presidente da Câmara de Vereadores era Atanagildo Pinto Martins:


Senhor Presidente da Província Barão de Caxias (...) A Câmara Municipal, tomando na maior consideração a falta de empregados no município, já tem oficiado a Vossa Excellencia para bem mandar proceder elleições, quer para vereador, quer para juizes de pás, pois que hum e outros já servem com effectividade a perto de nove annos. (....) Villa do Espírito Santo da Cruz Alta em seção ordinária de dezoito de junho de mil oitocentos e quarenta e quatro. (...) O vereador Presidente Atanagildo Pinto Martins.48

 

​O Major Atanagildo Pinto Martins foi figura importante na política do antigo município de Cruz Alta, que na época compreendia todo o Planalto Médio. Em 1840, aos 67 anos, Atanagildo tomou parte no Combate de Curitibanos, lutando ao lado dos legalistas, derrotando as forças farroupilhas. 49 Faleceu em 1851 com 79 anos.

 

O inventário de Atanagildo Pinto Martins foi autuado em 15/07/1851 e seus bens totalizaram a quantia de 26:711$455, os quais foram divididos entre sua esposa Anna Joaquina do Amaral, suas filhas Marinha Esbela do Amaral e Ana Maria do Amaral e seus netos Fabrício Luis de Quadros, filho de Felicidade Maria do Amaral falecida na época do inventário e Honorato Amâncio de Quadros, filho de Carlota Joaquina do Amaral também falecida.

 

Os bens de raiz importaram a quantia de 13:000$000, dos quais faziam parte a Fazenda Santa Bárbara, várias invernadas em Palmeira das Missões e uma casa na Vila de Cruz Alta. 50 Atanagildo possuía 19 escravos, sendo que um foi entregue como dote a filha Ana Maria do Amaral, quando se casou como Vitor Antônio Moreira.

 

Os bens móveis, em sua maioria utensílios domésticos e objetos de prata foram avaliados em 184$300. Possuía, também, duas carretas que eram usadas, provavelmente, para abastecer-se de sal em Rio Pardo. Como explica Aristides de Moraes Gomes: “os estancieiros maiores organizavam suas carretas para trazerem sal de Rio Pardo,” 51 este artigo indispensável para a criação de animais.

 

Seguindo a tendência da época, o inventário do Major Atanagildo Pinto Martins apresenta um grande percentual de animais cavalares, chegando a 38% de todo o rebanho contra 44% de gado bovino. O gráfico abaixo apresenta o perfil do plantel de animais do fazendeiro em 1851:

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Identifica-se um possível criatório de muares, porque há um número considerável de éguas, cerca de 238 e dois burro exor. O cruzamento da égua com o burro exor produz a mula, “esta de extrema importância para o mercado da época”. 52De acordo com Aristides de Moraes Gomes “os estancieiros serranos adquiriam grande quantidade de éguas para organizarem suas criações de mulas.”53

 

Outro indício de criatório seria o bom número de burras que fazendeiro possuía, em torno de 57, estas serviriam para produzir os burros.

 

As bestas aparecem pouco no inventário, pois eram vendidas com um ou dois anos a tropeiros que as comercializavam nas feiras de Sorocaba. Neste inventário aparecem 25 bestas de um ou dois anos, as quais foram avaliadas em 4$000 reis cada uma. Já as mulas mansas de carga foram avaliadas em 12$000 e as de “sela” usada para montaria foram avaliadas em 14$000

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As ovelhas aparecem em pequeno número, porque, provavelmente, era uma criação doméstica. A lã produzida pelas ovelhas era usada para confeccionar cobertores, bicharas, ponchos, baixeiros e roupas grosseiras para os escravos. 54

 

Ao proceder a partilha dos bens de Atanagildo Pinto Martins a metade ficou para a viúva e “terça” foi concedida à filha Marinha Esbela do Amaral, o restante foi dividido em quatro partes iguais de 2:233$754 para cada herdeiro. A viúva Anna Joaquina do Amaral recebeu como pagamento de sua “meação” a “Fazenda Santa Bárbara” com campos, casas e benfeitorias, o valor da apólice que o casal tinha no Rio de Janeiro, parte nas dívidas ativas, utensílios, 140 rezes e oito escravos.

 

A herdeira Marinha Esbela do Amaral recebeu como pagamento da “terça” no valor de 4:467$509, quatro escravos, 40 rezes xucras, 8 bois xucros, 3 bestas mansas, 25 bestas novas de um e dois anos, 4 burros, par de esporas de prata e a Invernada Grande no distrito de Palmeira. De sua legitima paterna recebeu ainda a Invernada “Cascavel” e a parte no campo “Carijo Queimado” ambos situados em Palmeira das Missões, mais dois escravos, 18 bois carreiros, 57 burras e 30 ovelhas, duas carretas e a casa na Vila de Cruz Alta.

 

A herdeira Ana Maria do Amaral casada com Vitor Antônio Moreira recebeu de herança, depois de descontado o valor do dote, a invernada denominada “Canário” em Palmeira das Missões, uma parte da escrava Fabiana e o escravo Fernando.

 

O neto Fabrício Luis de Quadros recebeu da legitima de sua mãe já falecida Felicidade Maria do Amaral, descontado o dote, o campo denominado “Carreteira” em Palmeira das Missões.

 

Já o outro neto Honorato Amâncio de Quadros recebeu de pagamento da herança destinada a sua falecida mãe Carlota Joaquina do Amaral, descontado o dote, a Invernada “Guarita’ e uma parte do Campo “Carijo Queimado” em Palmeira das Missões, uma parte da escrava Fabiana, 119 éguas xucras.

 

Os campos que formavam a “Fazenda Santa Bárbara”, cerca de 16 mil hectares, foram divididos entre os herdeiros quando faleceu Anna Joaquina do Amaral em 1855.55

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Marinha Esbela do Amaral também recebeu a “terça” de sua mãe, a qual englobava a invernada “Rincão dos Negros”, o campo onde estava situada a fazenda, a morada de casas denominada “Estância Santa Bárbara”, o campo denominado “Ronda” e a invernada “Barreiro”. (ver anexo - 2 os campos que compunham a Fazenda Santa Bárbara)

 

A herdeira Ana Maria do Amaral recebeu de herança de sua mãe, parte invernada “Rincão do Antônio Gonçalves”.

 

Os filhos dos herdeiros falecidos Maria Eulália do Amaral e Joaquim Fortunato do Amaral receberam parte do “Rincão do Pinheirinho”.

 

Os netos, filhos de José Egipto do Amaral, receberam parte da invernada “Rincão de Antônio Gonçalves e da invernada “Chapada Caiapea”.

 

Com a promulgação da Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, regulamentada em 1854, a Lei de Terras, os proprietários ou posseiros do antigo município de Cruz Alta deveriam registrar as suas terras na Paróquia, onde o vigário fazia o registro. Em 18 de março de 1856 consta um registro de uma parte de campo no Distrito da Vila de Cruz Alta em nome de Marinha Esbela do Amaral com o seguinte teor:

 

Huma parte de campo sita no Distrito da Vila de Cruz Alta. Divide-se por uma banda por uma vertente que desagua no lageado grande com Manoel Joaquim da Silva até desaguar no Jacuhy e por este até fazer barra com outro arroio denominado Lagoão. (...) Este campo foi parte da Fasenda Santa Bárbara que pertenceo ao finado Major Athanagildo Pinto Martins por compra que fez ao Alferes Antonio Pereira Borges em vinte oito de novembro de mil oitocentos trinta e tres o qual coube herança a possuidora abaixo assignada filha do dicto Major. Santa Bárbara vinte oito de Fevereiro de mil oitocentos e cincoenta e seis. Marinha Esbela do Amaral. 56

 

A filha do Major Atanagildo Pinto Martins registrou outra área no distrito de Palmeira:

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(...) Invernada grande sitta no Districto de Palmeira, deste município –dividese por um boqueirão pela Estrada Geral com Victor Antonio Moreira de outra banda por uma vertente e restinga de Mattos com Benjamim Constante do Amaral e Alberto José Corça até o Rio Guarita (...) Este campo foi parte da Fasenda de São Jerônimo que pertenceo ao finado Major Athanagildo Pinto Martins, por concessão do Comandante Geral Silva, e posse no anno de mil oitocentos e vinte oito, a qual coube em legitima a possuidora abaixo assignada filha do dito Major. Santa Barbara, vinte oito de Fevereiro de mil oitocentos cincoenta e seis.- Marinha Esbela do Amaral.57

 

Roderjan afirma que Atanagildo Pinto Martins fixou residência no atual município de Santa Bárbara do Sul, por volta de 1826, já que “em 1826 os camaristas da vila de Castro atestam que Atanagildo está estabelecido “nas Missoins”, como sargento-mor reformado”58

 

De acordo com os registros paroquiais de terras acima citados vimos que Atanagildo Pinto Martins se instalou, primeiramente, em Palmeira das Missões, onde teria recebido “concessão do Comandante Geral Silva em 1828”59 e somente em 1833 “compra” do Alferes Antônio Pereira Borges os campos que compunham a Fazenda Santa Bárbara, visto que a área que Marinha Esbela do Amaral registrou situada “no distrito da Vila de Cruz Alta”, eram os campos que recebeu de herança da mãe (Rincão dos Negros, os campos onde estava situada a fazenda, o campo “Ronda” e a Invernada “Barreiro”).

 

Outro dado importante é que Marinha Esbela do Amaral era solteira e sempre morou com os pais, devendo ter conhecimento das origens das terras da família.

 

Apesar do Registro Paroquial de Terras de Cruz Alta não ser uma fonte totalmente confiável, devido às fraudes empreendidas por grandes proprietários, deve-se levar em consideração neste caso, por se tratar da única fonte conhecida que informa as “origens” das terras ocupadas pelo Major Atanagildo Pinto Martins e sua família no Planalto Médio.

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Notas:

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40 RODERJAN, Roselys Velloso. O Alferes Atanagildo Pinto Martins e o Passo do Pontão. p.77

41 TESTAMENTO de Atanagildo Pinto Martins. Feito na Invernada da Guarita em 22/10/1842. TESTAMENTO de Anna Joaquina do Amaral. Feito na Fazenda Santa Bárbara em 22/11/1843.

42 SOARES, Mozart Pereira. Santo Antônio da Palmeira. Porto Alegre. Bells, 1974. p.110.

43 No regresso de sua missão, o Alferes Atanagildo Pinto Martins decidiu voltar para Atalaia somente com seus comandados militares e o índio Pahy. Ordenou seu guia, o índio Jongongue, e aos expedicionários restantes, que voltassem pelo oeste, que era o caminho pretendido. Jongongue e os demais homens não mais voltaram a Atalaia.

44ATAS DA CÂMARA DE CASTRO-PR. Sessão de 25 de maio de 1825. Disponível em: www.camaracastro.pr.gov.br/atas acesso em 27/07/2010.

45 ECKER, Adair Francisco. A Trilha dos Pioneiros. Passo Fundo: Bertier, 2007.p.115

46 ROCHA, Prudêncio. História de Cruz Alta. 2ed. Cruz Alta: Gráfica Mercúrio, 1980. p. 31

47 RODERJAN, Roselys Velloso. Raízes e Pioneiros do Planalto Médio. 124.

48 Ofício remetido pela Câmara de Cruz Alta ao Presidente da Província Barão de Caxias em 18 de junho de 1844. Livro de Registros da Câmara de Cruz Alta. Livro 274 folha 18 AHM/CA.

49 RODERJAN, Roselys Velloso. O Alferes Atanagildo Pinto Martins e o Passo do Pontão. p. 78

50 Inventário de Atanagildo Pinto Martins. Cartório Cível e Crime. Cruz Alta. APERS. N 9 M 1 E 10. 1851

51 GOMES, Aristides de Moraes. Fundação e Evolução das Estâncias Serranas. Cruz Alta. Dal Forno Editor, 1966

52 ZARTH, Paulo Afonso. História Agrária do Planalto Gaúcho 1850-1920. p. 109

53 GOMES, Aristides de Moraes. Fundação e Evolução das Estâncias Serranas. p. 39

54 Op. Cit. p. 211

55 Inventário de Anna Joaquina do Amaral. Cartório Órfãos e Ausentes. Cruz Alta. APERS. A60 M3 E10. 1855

56 Registro Paroquial de Terras. Cruz Alta. Livro I. nº 48. APERS.

57 Registro Paroquial de terras. Cruz Alta. Livro I. nº 49. APERS.

58RODERJAN, Roselys Velloso. Raízes e Pioneiros do Planalto Médio. p.124

59 Segundo Aurélio Porto em sua obra “História das Missões Orientais do Uruguai” p. 538, consta que o Comandante Geral das Missões em 1828 era o Coronel Manuel da Silva Pereira do Lago.

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