O PATRIMÔNIO COMO OBJETO
Henrique Pereira Lima
A definição de patrimônio cultural, em suas mais diferentes manifestações (arqueológicas, históricas, antropológicas, artísticas, etc.) engloba (potencialmente) todas as manifestações humanas, e suas formas derivadas de relação entre os seres humanos e destes com o mundo que o rodeia – da terra, aos astros. Segundo o IPHAN “uma das mais importantes distinções que se pode fazer com relação ao Patrimônio Cultural, [é que este] [...] apresenta interfaces significativas com outros importantes segmentos da economia como a construção civil e o turismo, ampliando exponencialmente o potencial de investimentos”, e não apenas o mercado cultural.
Mas quanto ao s bens matérias, sejam eles moveis, ou imóveis, devemos ponderar se há alguma escala de importância, que coloques alguns como mais valiosos à humanidade, ou a uma determinada comunidade. Se pusermos em foco os museus e seu significado mais arcaico, teremos um espaço estático, gabinetes de curiosidades acríticas, onde o máximo que ocorria, era a transmissão de alguma informação recortada do espaço e do tempo. Nesse momento, havia uma escala de valor aos bens patrimoniais. Apenas ganhavam esse status o “dourado e o glorioso”, o passado remoto e intocável”. As demais manifestações sociais, sobretudo as contemporâneas ora mais, ora menos, eram tidas como inferiores e degradadas.
È evidente que àquela perspectiva, o museu e seus objetos não deveria ser fonte de criação ou de construção de conhecimento (ou seja, gerar mecanismos de intervenção consciente dos indivíduos sobre os objetos e a “realidade” representada ou vivida, mas sim de doutrinação, acerca dos grades feitos de grandes homens da história.
Contudo, a valorização do individuo social, e das comunidades locais – fenômeno perceptível na historiografia, na política, entre outras áreas, pôs em dúvida essa percepção através da reavaliação do valor dos objetos enquanto bens patrimoniais. Um exemplo muito didático pode ser dado pelo Coroa Real e pelo tamanco: o que tem maior relevância para a composição de um patrimônio cultural, o ouro da Coroa de cobriu reis e rainhas, ou a madeira puída de um tamanco?
O que temos é que o objeto em si não é reduto de um valor patrimonial. Nem o ouro ou a coroa, nem a madeira ou o tamanco são portadores de valor cultural e patrimonial em si mesmo. O que detém esse valor e o atribui a esse objeto é a nossa relação com objeto e seus significados e, a situação em que se encontra o objeto (contexto). Nesse sentido, o significado do objeto tende a mudar, dependendo da perspectiva e das ideologias predominantes. Assim, a relação eu - objeto (1), o contexto no qual o objeto é posto (2), e o que sei ou penso saber sobre o objeto (3) é que são os elementos atribuidores de sentido patrimonial aos objetos, sejam eles raros, ou comuns, de ouro, ou madeira.