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Palmeira das Missões: um recorte metodológico
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Henrique Pereira Lima
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No final do século XIX, uma vasta área compreendida no norte/noroeste do Rio Grande do Sul, era um território coberto por matas e campos naturais, e uma população nativa representativa, nem sempre amistosa às populações que se estabeleceram de forma mais relevante nesta região ao longo dos séculos XIX e XX.
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Esta espacialidade, ainda que conhecida desde o século XVII era explorada de modo irregular. À baixa densidade demografia da região se somava o caráter nômade dos coletores de erva mate que, na época de safra de estabeleciam junto aos ervais do planalto rio-grandense (aspecto notável na “região da Grande Palmeira, dada a exuberância de seus ervais) para retornar a seu local de origem: as Missões Jesuíticas, que pioneiramente integraram a região ao contexto americano, ou Cruz Alta, criado em 1833, por Resolução do Presidente da Província em Conselho em 1833” (Soares, 2004, p. 126), e que integrou a região ao contexto administrativo provincial.
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Há, portanto, uma construção social neste espaço, que perpassa diferentes momentos históricos. E, é através desta tomada de consciência de que uma região é dotada de peculiaridades, que é dá visibilidade às suas diferenças de outras áreas e regiões, ou até mesmo do macro espaço, cuja “[...] macroabordagens, [...] embora necessárias e capazes de apontar parâmetros, mostrava-se claramente insuficientes quando cotejadas com estudos mais particularizados” (Reckziegel, 1999, p. 15). Ao encontro da observação das particularidades da experiência social regional, esta a possibilidade de tornar “[...] a região [...] uma construção do sujeito, que igualmente [a] delimita a partir de padrões próprios, porém fundamentados na realidade” (Viscardi, 1997, p. 89). Portanto, o estudo do local, ou regional, tendo por foco central Palmeira das Missões, variará, territorialmente, na identificação de elementos que contribuam para uma percepção mais nítida acerca do espaço regional.
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Ainda que, a região esteja “[...] em jogo como objeto de luta entre os cientistas, não só os geógrafos é claro, [...] mas também historiadores, etnólogos, [...] economistas e sociólogos” (Bordieu,1998, p.108), é possível construí-la, a partir de critérios de diferentes áreas, fora de uma escala de valores cumeada pelos critérios físicos do espaço.
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Ao considerar o espaço (no caso uma região), uma dimensão temporalizada, vem à tona a discussão do aspecto físico dentro da perspectiva histórica. Esta concepção que concebe o espaço como uma dimensão passível de ser explorado pela história, como com uma nova lente, tem seu marco na segunda metade do século XX, quando a “região” veio a se tornar pertinente junto das “novas concepções históricas, a partir da década de 1970 do século XX, impulsionada pelo movimento dos Annales, [que] favoreceram a expansão dos estudos regionais e, em consequência, a tentativa de explicitação de região” (Ardenghi, 2003, p. 45).
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Às ciências que se ocupam, com o conceito de região, não parece ser possível, ainda, a formatação de um conceito único. Talvez, esta situação ofereça mais vantagens do que desvantagens, uma vez que, deste modo, a região pode ser construída de acordo com critérios diversificados, ilimitados (mas sempre fundamentados), apesar da imprecisão permanente. Portanto, o caráter variável do conceito de região, o torna portador da potencialidade de variar “conforme o universo escolhido” (Neves, 2002 p. 87). Assim, é possível deduzir que a região, enquanto uma dimensão de análise de um objeto (que vem a configurara-se no próprio objeto) precisa ser construída, de forma criteriosa, à luz da ciência que sobre ela se debruça, associada à áreas complementares.
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Por fim, o estabelecimento do recorte regional em função de critérios percebidos como peculiares, desdobra-se em uma nova possibilidade de discussão e análise: a identidade, construída a partir dos elementos peculiares que “[...] que permite diferenciá-la de seu entorno” (Reckziegel, 999, p. 19).
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A postura que a região assume, ao longo desta trajetória, seja ao longo do caminho de sua conceituação (ou tentativa de fazê-lo), bem como sendo posto em prática no exercício da pesquisa, impõe delicada tarefa. A região enquanto objeto, é construído a partir das mensurações realizadas sobre um determinado espaço. Não é algo dado, uma vez que os elementos, ou peculiaridades que darão os limites do espaço considerado regional, são elementos arbitrários, que dizem respeito ao interesse e aos propósitos do pesquisador.
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Assim a função do pesquisador deve ser feito com mais acuidade, uma vez que é sua função, estabelecer, e identificar os critérios que serão levados em consideração para o recorte do objeto, tanto em sua esfera espacial, quanto temporal.
A ocupação do território viria a ser disciplinada quando a matriz econômica estadual abandonou o exclusivismo pecuarista e as colônias velhas passaram por um processo de emigração, pelo escassamente de terras aos descendentes das primeiras correntes migratórias estabelecidas nas regiões mais meridionais do estado (final do século XIX e a primeira metade do século XX). Nesse contexto, ocorre um incremento demográfico, em parte decorrente da criação da “Villa de Santo Antônio da Palmeira”, e sua respectiva instalação no ano seguinte (7 de abril de 1875).
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Nesta historicidade, a apropriação do espaço, decorre sobretudo da exploração dos ervais nativos da região. Portanto, esta atividade contribui para o desenvolvimento de um sistema sociocultural que viria a ser tema na Villa da Palmeira inclusive de lei (Código de Posturas de 1875)
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Referências:
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ARDENGHI, Lurdes Grolli. Caboclos, Ervateiros e Coronéis: luta e resistência no norte do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: UPF, 2003.
BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especializações e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
BORDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998.
NEVES Erivaldo Fagundes. História Regional e local: fragmentação e recomposição da história na crise da modernidade. Universidade Estadual de Feira de Santana; Salvador: Arcádia, 2002.
RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti. História Regional: dimensões teórico - conceituais. História: Debates e tendências. V. nº1, Passo Fundo, junho de 1999.
REICHEL, Heloisa Jochims; GUTFRIEND, Ieda. As Raízes Históricas do Mercosul. São Leopoldo; Ed. UNISSINOS, 1996.
SOARES, Mozart Pereira. Santo Antônio da Palmeira: apontamentos para a história de Palmeira das Missões, comemorativos do primeiro Centenário de sua emancipação política. 2ª ed. Porto Alegre: AGE, 2004.
VISCARDI, Claudia Maria Ribeiro. História, Região e Poder: a busca de interfaces metodológicas. Locus: Revista de História de Juiz de Fora. Vol. Nº 01.
ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850 – 1920. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1997.
ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850 – 1920. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1997.
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