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PATRIMÔNIO DE PODER

 

 

Henrique Pereira Lima

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Pensar o patrimônio sugere repensar o poder. Uma organização social - bairro, cidade, país, por exemplo – possuem referenciais históricos e culturais segundo os quais, tomados como parâmetros, definem o que é e o que não é histórico, o que é e o que não é o patrimônio.  E, a partir da conclusão destas questões, as identidades são formuladas e propostas e junto destas, os locais sociais e históricos dos indivíduos são definidos e consolidados, tanto no tempo, quanto no espaço.

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Ao pensarmos o patrimônio cultural tombado (contemplado pelo olhar político institucional), amparado por leis e políticas públicas especificas, é possível observar que este patrimônio (arquitetônico, artísticos, gastronômico, etc.) vincula-se a determinadas formas de obervar o espaço e sua população, e a determinados projetos de identidade. Nessa condição, o olhar jurídico sobre um acervo patrimonial, historicamente contemplou aspectos da produção cultural que subsidiassem determinadas concepções acerca da formação de uma sociedade. Se pensarmos o Brasil, veremos espaços religiosos e prédios públicos ou ligados a personalidades políticas, como destacados elementos do patrimônio arquitetônicos nacionais tombados, sugerindo aí uma matriz identitária pautada na relevância do poder político e religioso sobre a população, dando destaque, ainda, a herança portuguesa como marco fundamental da constituição cultural brasileira.

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Contudo, é possível se observar contemporaneamente que, o esforço por identificar e preservar o patrimônio cultural nacional acompanha os paradigmas de revisão dos conceitos e ideologias historiográficas, permitindo que o patrimônio de uma sociedade seja mais do que os locais e espaços de poder consagrados pela tradição. Assim como os sujeitos passaram, ao longo do século XX conquistando espaço, sobretudo os “esquecidos da história” (mulheres, minorias, indígenas, quilombolas), seus referencias culturais também passaram a ser reabilitados. Esse novo entendimento, onde bens materiais e imateriais dividem espaço, sugere que o conjunto denominado patrimônio cultural demanda de um processo de relações. Os sujeitos sociais em sua pluralidade estabelecem como referenciais ao local e sua identidade diferentes bens, onde a escala de importância perde seu efeito, pois o valor não esta no objeto em si, mas na relação que o eu estabelece.

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Assim, torna-se licito questionar: em uma sociedade dividida por questões financeiras, étnicas, culturais, etc., qual será seu patrimônio cultural? A possibilidade de esta resposta migrar para um pluralismo é evidente. Por isso, torna-se premente, ao lado destes elementos pulverizados identificar bens catalisadores desta relação que, embora exerçam uma força convergente sobre a população, não deve ser tomado como mecanismo de opressão. Afinal, o patrimônio cultural apenas assume essa condição quando a leitura empreendida pelos indivíduos imersos em determinada cultura, assim o veem.

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