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A REGIÃO DA GRANDE PALMEIRA

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Henrique Pereira Lima

 

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Palmeira das Missões até 1933 era a sede de um imenso território, denominado de “Grande Palmeira”. Nesta concepção, esta expressão justificava-se prioritariamente como um espaço político, uma vez que, a “Grande Palmeira” correspondia ao território do município de Palmeira das Missões, delimitado “ao norte – com o Estado do Paraná; a leste – com o município de Passo Fundo; ao sul – com o município de Cruz Alta; ao oeste – com o município de Santo Ângelo e República Argentina.” (SOARES, 2004, p. 134). Em um aspecto secundário, figurava também como um território socialmente organizado, em atenção à um centro de decisão imediato: Palmeira das Missões. Deste modo, “[...] a área primitiva do município de Palmeira das Missões, situado no Planalto rio-grandense e designado de Grande Palmeira, [...] [correspondia a] uma área de 15.600 km² [...]” (ARDENGHI, 2003, p. 18). (grifo do autor).

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A ocupação deste território desde o momento em que foi integrado ao processo colonial ibérico, ocorreu de modo espontâneo, ou irregular. No século XIX, a região foi marcada pelo trânsito e formação de comunidades extrativistas espontâneas como foi comum, em outros espaços brasileiros. Citados em diferentes documentos oficiais do poder público brasileiro, este sujeito é denominado “‘lavrador nacional’ [...] [ou] ‘nacionais’ com o objetivo de diferenciá-lo do imigrante colono [de origem europeia]” (Zarth, 1997, p. 47), que se estabeleceria mais tarde, sob orientação e tutela do Estado, que desconsiderava os ocupantes espontâneos. Deste modo, a ocupação do espaço apenas viria a ser disciplinada de modo contundente, no final do século XIX e a primeira metade do século XX.  Nesse período, ocorre um incremento demográfico, em parte decorrente da criação da “Villa de Santo Antônio da Palmeira”, e sua respectiva instalação no ano seguinte (7 de abril de 1875), quando a matriz econômica estadual, a diversificação econômica (erva-mate, pecuária, madeira) e, sobretudo, pelo processo migratório dos descendentes das “Colônias Velhas”, em busca de novas áreas de assentamento.

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Nesta historicidade, a apropriação do espaço, decorre primariamente da exploração dos ervais nativos da região. Portanto, esta atividade contribui para o desenvolvimento de um sistema sociocultural que viria a motivar a exploração de diversos pontos do interior da Villa da Palmeira, integrando-o.

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Com o processo de emancipações iniciado em 1933, com o município de Iraí, esta unidade política se fragiliza. Com a intensificação das emancipações neste espaço, esta unidade política é pulverizava, permitindo, então, a emergência de uma fundamentação mais cultural à expressão “Grande Palmeira”, uma vez que o recorte espacial não esta “[...] diretamente associado a um recorte administrativo ou geográfico, podendo se referir a um recorte antropológico [...]” (BARROS, 2004, p. 152).

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Assim, as especificidades de uma organização social, as relações dos homens com o meio e entre si, dão voz a uma história mais cultural onde “as vivências, as ideias, os sentimentos que os homens desenvolvem [...] compõe [...] a cultura de uma região” (Reichel e Gutfreind, 1996, p. 13), estruturando uma forma de estar no mundo, sem negar, ou se desconectar dos processos históricos mais amplos, ou tendências mais gerais.

 

REFERÊNCIAS:

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ARDENGHI, Lurdes Grolli. Caboclos, Ervateiros e Coronéis: luta e resistência no norte do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: UPF, 2003.

 

BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especializações e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

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REICHEL, Heloisa Jochims; GUTFRIEND, Ieda. As Raízes Históricas do Mercosul. São Leopoldo; Ed. UNISSINOS, 1996.

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SOARES, Mozart Pereira. Santo Antônio da Palmeira: apontamentos para a história de Palmeira das Missões, comemorativos do primeiro Centenário de sua emancipação política. 2ª ed. Porto Alegre: AGE, 2004.

 

ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850 – 1920. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1997.

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