PATRIMÔNIO: SENTIDO E VALOR
Henrique Pereira Lima
Quando o termo patrimônio é encetado, a semântica de sua análise conceitual mostra-se plural, até mesmo elástica, podendo, por conseguinte, acomodar diferentes discursos, interpretações e até mesmo, interesses, sejam estes coletivos, ou individuais. Contudo, há um sentido inato no termo que se faz presente, em todas as suas conceituações, conferindo a hermenêutica do termo uma estabilidade: propriedade.
Conforme Abreu e Pelegrini (2009, p. 11) a origem do termo patrimônio repousa na língua latina “[...] patrimonium, que se referia, entre os antigos romanos, a tudo o que pertencia ao pai, pater ou pater famílias, pai de família.”. Mormente, tal qual àquela época, este patrimônio individual (ou familiar) é transmitido às gerações seguintes, seja por seu valor monetário, seja por um valor emocional.
Por outro lado, o patrimônio pode, ainda, referir, além daquilo que é individual, conforme Abreu e Pelegrini (2009, p. 9) “[...] àquilo que é coletivo [...] sempre algo mais distante, pois é definido e determinado por outras pessoas, mesmo quando essa coletividade nos é próxima.”. Nesse sentido, o termo é redimensionado, dilatando sua abrangência e, por conseguinte, seus significados, pois sendo o patrimônio cultural uma construção coletiva, seu acervo está sujeito a tantas variações quanto o número de indivíduos que sobre ele pensam. O patrimônio é, portanto, um conceito que, embora plural em sua interpretação, sempre conduz e sugere a ideia de posse, de propriedade de algo, por alguém. Este sentido se mantém quando o termo era aplicado nas relações sociais, jurídicas, políticas, mas também, culturais.
Sobre as relações culturais, observa-se que seu cotejamento com as outras dimensões (sociais, políticas e jurídicas) na sociedade contemporânea, houve a cadência do simbolismo aristocrático do termo patrimônio (patrimônio como símbolo do poder político e econômico), em favor de um sentido mais antropológico, ou seja, de valorização da experiência humana. A dimensão cultural de patrimônio consiste na atribuição de significado aos elementos materiais e imateriais componentes de uma cultura que, por alguma razão, são detentoras de um valor simbólico àquela comunidade.
A partir deste excerto histórico, podemos sugerir que o patrimônio cultural é um acervo de significação, de significados e de valores, pertencentes a uma coletividade. Por este acervo, uma consciência coletiva se expressa, pois, enquanto preserva seu acervo de significados (atribuídos a bens materiais e imateriais), consolida uma identidade e, nesse sentido, estabelece parâmetros para sua organização presente. É uma construção sempre em aberto, estando sujeito a diferentes variações, oriundas da mobilidade dos indivíduos (grupos de convivência, interesses, distribuição de poder). E, não é o objeto que muda nesse processo. É sim, a nossa relação com o objeto.
É imprescindível a compreensão de que o patrimônio cultural é uma construção social. Por isso, apenas quando é construído social e reconhecido socialmente, um determinado acervo pode ser convertido em patrimônio, pois na ausência de tal consciência, não há o estabelecimento de relações, ainda que alguma força (como a política) defenda-o como tal.
Bibliografia:
ABREU, Pedro Paulo Funari; PELEGRINI, Sandra Cássia Araújo. Patrimônio histórico e cultural. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.